TIPO
PENAL – NORMATIZAÇÃO. A existência de tipo penal pressupõe lei em sentido
formal e material. LAVAGEM DE DINHEIRO – LEI Nº 9.613/98 – CRIME ANTECEDENTE. A
teor do disposto na Lei nº 9.613/98, há a necessidade de o valor em pecúnia
envolvido na lavagem de dinheiro ter decorrido de uma das práticas delituosas
nela referidas de modo exaustivo. LAVAGEM DE DINHEIRO – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E
QUADRILHA. O crime de quadrilha não se confunde com o de organização criminosa,
até hoje sem definição na legislação pátria.
O
STF, por unanimidade, no HC 96007/DF trancou ação penal em desfavor de réus acusados
pelo crime de lavagem de dinheiro de crimes praticados por organização
criminosa, nos moldes da antiga redação do artigo 1º, inciso VII, da Lei nº
9.613/1998.
Na
denúncia, descreve-se a existência de organização criminosa que se valia da
estrutura de entidade religiosa e de empresas vinculadas, para arrecadar
vultosos valores, ludibriando fiéis mediante variadas fraudes, desviando os
numerários oferecidos para determinadas finalidades ligadas à Igreja em
proveito próprio e de terceiros, além de pretensamente lucrar na condução das
diversas empresas, algumas por meio de “testas-de-ferro”, desvirtuando as
atividades eminentemente assistenciais e aplicando seguidos golpes.
Para
o MP que o crime cometido, em tese, pelos pacientes, tipificado no artigo 1º,
inciso VII, da Lei nº 9.613/98, não requer a existência de delito antecedente específico para a
configuração de lavagem de dinheiro, bastando a prática por organização
criminosa, nos termos disciplinados no artigo 1º da Lei nº 9.034/95, com a
redação dada pela Lei nº 10.217/2001, combinado com o Decreto Legislativo nº
231, de 29 de maio de 2003, que implicou a ratificação da Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto nº
5.015, de 12 de março de 2004.
Na
mencionada Convenção, considera-se organização criminosa o “grupo estruturado
de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com
o fim de cometer infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a
intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro
benefício material”.
A Convenção apenas descreve o que seria
organização criminosa, não a prevendo como crime autônomo, nem lhe cominando
pena.
Vale
ressaltar que não existe crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal – inciso XXXIX do artigo 5º da Carta Federal. Para o STF
a concepção de crime, segundo o ordenamento jurídico constitucional brasileiro,
pressupõe não só encontrar-se a tipologia prevista em norma legal, como também
ter-se, em relação a ela, pena a alcancar aquele que o cometa.
Conjugam-se os dois períodos do inciso
XXXIX em comento para dizer-se que, sem a definição da conduta e a apenação,
não há prática criminosa glosada penalmente.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal;
Por isso, a melhor doutrina sustenta
que, no Brasil, ainda não compõe a ordem jurídica previsão normativa suficiente
a concluir-se pela existência do crime de organização criminosa.
Não é demasia salientar que, mesmo
versasse a Convenção as balizas referentes à pena, não se poderia, repito, sem
lei em sentido formal e material como exigido pela Constituição Federal,
cogitar-se de tipologia a ser observada no Brasil. A introdução da Convenção
ocorreu por meio de simples decreto.
A
não se entender dessa forma, o que previsto no inciso em comento passa a ser
figura totalmente aberta, esvaziando o caráter exaustivo do rol das práticas
que, fazendo surgir em patrimônio um dos bens mencionados, conduzem, estas sim,
porque glosadas no campo penal, à configuração da lavagem definida. Toda e
qualquer prática poderá ser tomada como a configurar crime, bastando que se
tenha o que definido na Convencão como organizacão criminosa e que se aproxima
de quadrilha nela não prevista (na antiga redação do artigo 1º da Lei nº
9.613/1998.).
Antes da alteração da Lei nº 9.613/1998
pela Lei nº 12.683, de 2012), o artigo 1º da Lei nº 9.613/1998 previa um rol
taxativo de crimes antecedentes ao de lavagem de dinheiro. Hoje, tal rol foi
revogado de modo que qualquer infração penal como configurar-se crime antecedente
ao de lavagem de dinheiro.
Art. 1º Ocultar
ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012).
Pena:
reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se
os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por
intermédio de organização criminosa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Fonte: STF
Nenhum comentário:
Postar um comentário